Uma Olhadinha, de leve, no PassadoEmbora não seja o foco deste ensaio explorar diversos aspectos históricos e raciais do povo judeu, é importante abordar alguns pontos para contextualizar a identidade e etnia do Israel moderno. Há mais de cem anos atrás, o médico e antropólogo Maurice Fishberg observava:“É notável que a história confirme o fato de que não existe uma raça judaica”.Sabendo se que a metodologia científica daquela época, hoje é considerada pseudociência, o que levanta vários questionamentos que não pretendo abordar aqui, mas que foram os mesmos utilizados na Alemanha de Hitler, é interessante observar que, um século depois, ainda são muitas as vozes que defendem, usando a mesma abordagem, mas em sentido oposto, a ideia de uma “raça judaica pura”. Mas afinal, a identidade judaica é homogênea ou miscigenada? Se mudarmos a enfoque e considerarmos o relato bíblico, os personagens bíblicos de Israel se miscigenaram desde o início, mesmo contra as orientações dos profetas. Abraão que não era judeu, teve um filho com Agar, que era egípcia; José se casou com Asenate, também egípcia; Moisés teve por esposa Zípora, que era medianita; a mãe do rei Davi era moabita; e o próprio Davi se casou com a princesa Gheshur. Isso sem falar de Salomão, que tinha mãe hitita e se casou com centenas de mulheres de diversos povos. Esses relatos não sugerem uma “pureza racial”.Em relação à origem étnica dos judeus, o professor Juan Comas, em um estudo publicado pela UNESCO, destacou a complexidade do tema, afirmando:Assim, apesar da opinião geralmente defendida, o povo judeu é racialmente heterogêneo; suas constantes migrações e suas relações - voluntárias ou não - com a mais ampla variedade de nações e povos trouxeram tal grau de cruzamentos que o chamado povo de Israel pode produzir exemplos de trilhas típicas de todos os povos.Mas essa visão contrasta com um artigo mais recente da Nature Communications, revelando que os judeus Asquenazes tem origem européia, com as mulheres Asquenazes descendendo majoritariamente de europeias há cerca de 2000 anos atrás, indicando uma outra origem.Apesar das evidências de uma pluralidade étnica, ainda hoje, muitos defendem a ideia de uma “raça judaica” homogênea, causando ainda mais dificuldade em diferenciar (se é que é possível) uma pessoa que segue ou se converte ao judaísmo - reconhecida oficialmente como judeu - de uma possível etnia judaica, causando dificuldades em distinguir se a identidade judaica é religiosa, étnica ou a combinação de ambas. Essa confusão seria proposital? Imagine se, por exemplo, países com maioria cristã se declarassem uma raça.De fato, quando buscamos por imagens no Google, usando o termo “israelitas”, o buscador apresenta pessoas predominantemente brancas ou caucasianas. Essas imagens não correspondem à diversidade étnica da região histórica de Israel, composta por povos originários com características físicas variadas, como os semitas e outros povos da região do Oriente Médio. Existe uma outra explicação para isso, que vai no sentido do artigo da Nature Communications, embora muito discutida devido ser um tema sensível e paixões envolvidas, defendendo que grande parte da população do Israel moderno teria se originado dos ashkenazim - descendentes dos khazares - um povo antigo que adotou o judaísmo, falavam hebraico e habitavam a região do Cáucaso. Muito longe das terras bíblicas de Canaã. Segundo os textos bíblicos, Asquenaz seria um dos netos de Jafé, e portanto, não seria semita.Historicamente falando, a maior concentração de judeus, na era moderna, estava em países como Rússia e Polônia, vários historiadores, como por exemplo A.N. Poliak, um professor de História Medieval Judaica da Universidade de Tel-Aviv, concluíram que a grande maioria dos judeus do mundo poderia ser de origem khazar, e não semita. Adicionando ainda mais complexidade em definir, de fato, quem seria “semita”. Na imagem abaixo você pode conferir um extrato dessa referência.Dessa forma, se levarmos em consideração esse panorama histórico, podemos concluir que a grande maioria dos judeus modernos tem raízes na Europa, possivelmente na região do Cáucaso, e não em Canaã. Essa perspectiva altera a compreensão do que é ser judeu e também se expande para temas sensíveis, especialmente ao reconsiderar a origem do termo “antissemitismo”. Ora, se os judeus de Israel têm ancestrais provenientes de regiões como o Cáucaso, a ideia de “antissemitismo” perde parte de seu significado, ao aproximar a ascendência judaica de povos como os hunos, uigures e magiares, ao invés dos patriarcas bíblicos como Abraão, Isaque e Jacó. Por outro lado, ajudaria a explicar o tom de pele caucasiano dos judeus contemporâneos. Concluí a primeira da história. Espero não ter me alongado demais, mas foi necessário esse preâmbulo devido a ...