Portuguese Classics

Três pretendentes – Andrade, Mateus e Jorge – disputam a atenção da bela e ambiciosa Sara, filha do rico comerciante inglês James Hope. Ela, difícil, não descarta nem considera pretendente nenhum deles. Então, os rapazes acordam um pacto: aquele que descobrir como romper essa barreira tem a liberdade de seguir com o pedido de casamento. Eis o enredo deste conto de Machado de Assis, onde brilha um de seus traços mais notórios: a metalinguagem.

Os amigos Eliana e Lourenço conversam no jardim. Ela, mulher sofrida por razões não reveladas, confidencia seu desejo de morrer e, assim, deixar de assistir aos males do mundo. Eis o cenário desse conto sensível de Carmen Dolores, que muito lembra aqueles da portuguesa Florbela Espanca, e que serve de base para a discussão desse tema tão caro aos escritores da virada do século XIX para o XX: a morte. O contraponto, todavia, é o amor. Será que Lourenço demove a amiga da ideia fixa?

Um relacionamento amoroso rompido pode ser reatado? No conto "Último Clarão", Carmen Dolores explora a psicologia do casal Amália de Aguiar, viúva, e Cláudio Monteiro. Passados dois anos do rompimento de seu namoro ardente, ele, casado, e ela, curada do sofrimento da separação, se reencontram na idílica Petrópolis. E fica no ar a pergunta!

Um mergulho profundo na psicologia de dois personagens – eis o que nos oferece Machado de Assis neste extraordinário conto "Um quarto de século". Tomás reencontra o amor de sua juventude, Raquel, então viúva. Com a ajuda de um amigo comum, Oliveira, eles voltam a se encontrar e, por fim, casam-se. Veio então a felicidade? A resposta é o que o narrador explora, contando a história de suas vidas nos anos que se sucederam.

Com traços secos, Carmen Dolores desenha nesse conto "Abdicação" a dor da personagem Matilde, que assiste, envelhecida por conta de uma doença, à degeneração de seu corpo. O enredo que emoldura essa reflexão tem por fundo um baile no bairro da Glória, Rio de Janeiro, em que seu marido Arsênio e sua filha Luizita brilham na pista de dança, enquanto ela, apensar de todo cuidado na preparação da maquilagem e da roupa, mal é notada.

Nesta crônica de tom literário, o português Júlio César Machado conta como foi sua viagem de Lisboa ao balneário de Nazaré, hoje famoso dentre os surfistas por conta de suas ondas gigantescas! Ele faz um bem-humorado contraponto entre os turistas que buscam os prazeres da praia e os romeiros que chegam para a festa da padroeira da cidade. Enriquecem o texto pitadas de metalinguagem e intertextualidade.

Neste conto de Rodrigo Paganino, o leitor encontra a pungente história de uma família que vê sua destruição avizinhar-se... De índoles diferentes, os irmãos Raimundo e Joaquim são separados por muitos anos. O primeiro constitui família, mas perde tudo e fica na miséria; e o segundo enriquece, sozinho, no Brasil. Com sua característica habilidade narrativa, Paganino resgata a história do seu reencontro no momento em que Joaquim volta a Portugal.

Em "Umas férias", de Machado de Assis, o narrador é também o personagem central do enredo – José Martins. Ele faz um recorte preciso de sua vida, do dia da morte do pai, vitimado por uma apoplexia, até o final do luto, dias depois, quando retorna à escola: era então um menino em idade escolar, mas que não gostava de aprender. Sensível, a narrativa faz uma reflexão sobre a mudança do comportamento do personagem.

Uma história dentro de outra história – eis o recurso refinado com que Rodrigo Paganino traz ao leitor a história tumultuada de Manoel e Marta. Com uma riqueza de detalhes ímpar na descrição do ambiente, conta-se como um desencontro involuntário quase levou à desgraça as vidas dos personagens: marinheiro, Manoel deixou Lisboa para uma viagem de seis meses, onde levantaria dinheiro para o casamento, mas ela se estendeu por três anos... Deram-no como morto. E Marta? Casou-se com outro.

Em "A consoada", Abel Botelho traça o retrato de uma noite de Natal na montanhosa região de Viseu, e nela insere a história de Eugênia e José Ventura: tendo quase falido com sucessivos revezes em seus negócios, José partiu para Moçambique, em busca de fortuna, deixando a mulher e os três filhos aos cuidados do sogro Simeão.

Dos textos mais legitimamente naturalistas de Carmen Dolores, este conto "Nihil sumus"! Nele se conta a história da diva Lisa Vignon – a "Lili" –, que depois de ser a grande estrela dos musicais cariocas, adoece do fígado e vai se refugiar na estância mineira de Lambari, numa tentativa de recuperar a saúde. Ali, ela defronta uma rival, a jovem cantora Nina, e decide enfrentá-la. O desfecho é... cruel,

O enredo de "Romantismo" traz a história do resistente e volúvel Rodolfo, filho único do Dr. Sepúlveda, que, contrariando seu pai, não queria de jeito nenhum casar-se com a rica viúva Santos. Até que o pai encontra uma saída... romântica. Em "Questão de honra", a fútil Angélica faz um périplo para conseguir dinheiro bastante para comprar um vestido que disputa com uma amiga. E chega aos limites da honra para obtê-lo.

Tema clássico, o do amor maternal, mas aqui com toda a crueza dos escritos naturalistas: o conto "Mãe" emociona com a descrição do parto dos gêmeos da pobre Leocádia, em que um dos bebês é monstruoso... Suspense, leitura que prende do início ao fim! Outra dor feminina, a da amante, é o tema do conto "Calvário", onde a personagem Olga desfila em um fluxo de consciência que nos faz íntimos dela o descontrole de suas emoções por conta da paixão por Roberto.

Eis um daqueles contos em que não é possível parar de ler até se conhecer o desenlace do enredo! A história começa com um refinado húngaro chamado Wencesláo Czolski, em Teresópolis, galanteado Regina, filha de um rico comendador. O pai dela não gosta da cena e a leva de volta ao Rio, junto com as irmãs.

Em "Crepúsculo", a singular personagem Dona Lurinda ("Sinhá velha") conta ao Dr. Brito a sua história, revelando a razão de sua surpreendente condição de penúria e solidão. Carmen Dolores faz uso aqui da intertextualidade com a narrativa Tolstói, bem como sua reflexão sobre a condição humana. Já em "Duelo", não são armas brancas ou de fogo aquelas que os personagens Luísa e Armando utilizam em seu eu embate de paixão ardente, mas sim os olhares; o narrador usa o recurso de ler os pensamentos de ambos para trazer ao leitor a imagem desse duelo.

Um passeio pelas ruas de São Paulo, pelas vidas de seus cidadãos, marcada pela chegada dos imigrantes italianos: eis o que o leitor encontra nesses três contos extraídos do clássico "Brás, Bexiga e Barra Funda", de Alcântara Machado. Em "O monstro de rodas", tem-se o retrato do enterro de uma menina durante o Carnaval. Já em "A sociedade", um casamento arranjado mostra a assimilação dos imigrantes italianos pela sociedade paulista. Por fim, o dramático "Amor".

No conto "Os retratos de família", explora-se o mandamento "honrar pai e mãe", por intermédio da história de Antonio Tavares, que ficou órfão, quase se perdeu na vida, mas foi salvo por respeitar a memória do pai morto na guerra. Extraído do livro "Os contos do tio Joaquim", o texto, que é independente, apresenta esse narrador-personagem, como em outras narrativas da obra.

Dois textos de Carmen Dolores com a crueza do Naturalismo com que a autora tempera sua literatura. O conto "Hotel para famílias" traz a história do quase engodo de Heitor de Magalhães, que se apaixona perdidamente por uma nobre austríaca que é, na verdade, uma golpista. Já em "Histórias de cada dia", o leitor flagra o rompimento dos amantes Celso e Leonor, porque ele, paralelamente ao caso, tem relações com uma prima jovem e é obrigado a casar-se com ela.

Três pérolas do icônico livro "Brás, Bexiga e Barra Funda", de Alcântara Machado. Em Tiro de Guerra n. 35, o leitor acompanha a biografia de Aristodemo Guggiani, da infância de malandragens à vida adulta e patriótica. Em "Nacionalidade", outra história de vida emocionada – a do barbeiro Tranquillo Zampinetti, que enriquece e só no fim da vida se naturaliza brasileiro. Por fim, em "Lisetta", encontra-se o recorte de um dia na vida da menina italiana, quando faz um escândalo no bonde ao querer a todo custo o brinquedo de outra menina.

Um convite à reflexão do leitor: eis o elo comum entre esses dois contos do genial Machado de Assis. Em "Ideias do canário", o narrador e a ave criada em cativeiro discutem possíveis e distintas visões de mundo. Em "O dicionário", o texto apresenta uma crítica mordaz (e atual) do autor à sociedade em todos os aspectos, da política aos relacionamentos amorosos.FEAT DESC