A psicanalista Ilana Katz define a criança que a formou como hegemônica, efeito de uma cultura eurocentrada. Mas sua subjetividade e experiência como analista mudaram radicalmente no contato com outros tipos de infância. “Ao falar da experiência contra-hegemônica, a gente precisa pôr um descritivo: ‘crianças trans, negras, pobres’, como se a criança que não é isso fosse a criança e ponto. No Brasil, ela é filha de famílias biparentais, cis, brancas. A experiência clínica me levou a um primeiro encontro com infâncias contra-hegemônicas a partir de autismos e psicoses. Naquela época, a gente ouvia como se essas crianças não tivessem infância, porque elas têm outra relação com o universo simbólico. Essa ideia de não ter infância também leva a pensar no que se diz de crianças que trabalham, são pobres ou não tiveram a família biparental. Essa ideia do ‘não ter infância’ começou a fazer muito ruído para mim. Eu pensava: ‘como assim não ter infância? Isso aqui é uma outra experiência de infância’.”
Neste episódio, Vera Iaconelli recebe a filha do Abraham e da Helena, a mãe do Mig e do Deco. Ilana Katz também tem as infâncias como principal tema de pesquisa e atua no Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise do Instituto de Psicologia da USP.