Portuguese Short

Dos mais belos contos de Florbela Espanca, "As orações de Soror Maria da Pureza" tem por enredo a trajetória da pura Mariazinha, cujo amor pelo namorado morto em batalha é tão intenso que alcança a esfera do divino, influenciando seu entorno no convento de Toledo, onde se interna por vontade própria.

Parte significativa e nem sempre lembrada da História do Brasil, o pano de fundo desse conto de Simões Lopes Neto é a Guerra de Farrapos. Com virtuoso tom gaúcho, o enredo traz a história da filha do índio Juca Picumã, a bela Rosa, cujos cabelos viraram cabresto – tudo narrado por Blau, narrador-personagem ativo que coloca o leitor no calor dos acontecimentos.

O conto "Singular ocorrência", de Machado de Assis, tem seu norte no romance de Marocas e Andrade. No entanto, melhor do que o enredo é a trama do texto, a forma como é contada a história: dois amigos, numa esquina, fofocam sobre a personagem, que é vista por um deles.

Nesta história muito bem contada de Maria Amália Vaz de Carvalho, o leitor conhece a vida da personagem Margarida, filha de um banqueiro, que é obrigada a casar com um conde por pura vaidade de seu pai, que ambicionava a nobreza. A moça, no entanto, apesar de ceder à vontade do pai, era apaixonada pelo pobre plebeu Eduardo de C.

Três deliciosos contos oriundos do clássico "Brás, Bexiga e Barra Funda", onde Alcântara Machado explora os italianismos de São Paulo do início do século XX, com o pobre menino Gaetaninho e seu sonho premonitório, a sedução que o automóvel exerce sobre Carmela e, por fim, o sonho da riqueza do esperto comerciante Natale e sua esposa.

Pontes era um tipo que fazia rir a todos. Vivendo às custas de suas piadas – que lhe dão o bastante para sobreviver apenas-, ele decide ser um homem sério, arrumar um emprego, subir na vida. Mas ninguém o leva a sério! Então, ele constrói um plano para conseguir um posto na administração pública. O destino, porém, impõe-lhe um obstáculo.

Oferecendo ao leitor o prazer das histórias bem contadas, Maria Amália Vaz de Carvalho apresenta nesse conto "O tio Sebastião" uma história de ingratidão. O filho único do protagonista, por conta de um parente rico, vai para a faculdade e passa a viver com luxo, esquivando-se do humilde pai que o ama e vive em uma remota aldeia minhota.

Um delicado e profundo momento de reflexão sobre a passagem do tempo, sobre o envelhecimento, sobre o caráter efêmero da vida: eis o conteúdo desde magnífico conto "A tia Isabel", de Maria Amália Vaz de Carvalho. Por enredo, tem-se o recorte de um dia da vida de Isabel, que o narrador conhecia bem.

Em "Último capítulo", o narrador Matias Deodato de Castro e Melo resume sua autobiografia de... suicida! Externando sua vontade de que os seus bens favoreçam de modo singular os desafortunados, ele busca explicar seu testamento. Tudo isso com a melhor metalinguagem de Machado de Assis, que pela voz do narrador vai tecendo comentários sobre o próprio texto.

Dois contos com a usual excelência Alcântara Machado na constituição das personagens! Em "A piedosa Teresa", a linguagem coloquial dos participantes da festa vai se costurando à letra da canção de São Gonçalo, para trazer ao leitor o universo de Dona Teresa. Já em "O tímido José", a violência na madrugada fria de São Paulo é quem domina a cena.

Romântico com traços naturalistas, o português Alberto Braga traz nestes dois contos todo sentimentalismo que o caracteriza. Em "As cerejas", o leitor acompanha o narrador na história da espanhola Consuelo, que se arrepende do rumo que deu à vida. Já em "Vinhos e aguardentes", o leitor encontra a trágica história de Rosa e sua filha Isabel, vítimas do cruel Benjamim.

Com o mesmo título do livro a que pertence, o conto "Urupês", de Monteiro Lobato, apresenta um dos personagens mais emblemáticos do autor: Jeca Tatu. Ícone do caboclo, estampa a ignorância do homem do campo, que vive daquilo que a natureza lhe oferece. Que significa "urupê"? Trata-se uma espécie de fungo parasita.

Neste conto "O Lapso", o leitor logo é introduzido ao Dr. Jeremias Halma, protagonista. Médico holandês, ele cuida das doenças da alma, tema recorrente na obra machadiana. Aqui, o bom doutor aplica um remédio que cura o lapso – esquecimento de se pagar os credores – de um paciente, mas é incapaz de cobrar-lhe a dívida consigo.

Em tom de "causo", o conto "Trezentas onças" traz a história do tropeiro que se martiriza com a suposta perda de trezentas onças de ouro do patrão. Já em "Jogo de osso", esclarecidas as regras, conta-se a história de dois apostadores, Osoro e Chico Ruivo, que levam ao extremo suas apostas, com este último apostando a própria companheira, Lalica.

Fugindo ao estilo de Florbela Espanca, "O crime do Pinhal do Cego" é um suspense de tirar o fôlego, com um final surpreendente. Nele se narra a história do triângulo amoroso de Rosa, Francisco e Rita, que tem por cenário o pinhal referido no título do conto – a floresta, a depender da estação do ano, reflete a emoção do enredo.

Neste genial conto de Machado de Assis, a protagonista Maria Regina ama simultaneamente dois homens, Maciel e Miranda, o primeiro mais jovem, o segundo na meia-idade. O toque de mestre se verifica na correspondência que se estabelece entre os nomes das partes do conto e os acontecimentos narrados. A trilha sonora? É a sonata, que perpassa o texto todo.

Tendo por pano de fundo o cenário sempre instigante de um farol, nesse conto de Monteiro Lobato o leitor encontra a trágica narrativa do reencontro de Gerebita e Cabrea, faroleiro e auxiliar, embalada pelo triângulo amoroso formado com Maria Rita. O singular narrador que presencia a história é Eduardo, que fora passar um tempo no farol.

No conto "O resto é perfume", encontram-se dois ambientes bem demarcados: o do narrador, junto ao mar, e o da narrativa, no campo. A personagem conta seu passado ao narrador, destacando seu relacionamento um homem louco que julgava ver pelo ponto de vista dos mortos.

Dois contos icônicos de Monteiro Lobato. No primeiro, "Cabelos compridos", a exploração psicológica da personagem Das Dores domina o enredo, tendo por mote seus cabelos. Em "O pito do reverendo", o recorrente tópico da vida interiorana e da cultura caipira se materializa na expectativa da visita de um diplomata austríaco ao reverendo da pequena Itaoca.

Dois retratos realísticos da miséria humana: assim se propõem esta duas narrativas de Raul Pompeia. Em "História cândida", não se engane o leitor com o adjetivo: abandono e sedução reunidos na história triste da Rachadinha, personagem central. Já "Amor de inverno" oferece uma reflexão sobre desejo e velhice, com enredo surpreendente.